domingo, agosto 31, 2014

Pequena história da vinha e do vinho em Portugal - II

Com o Renascimento, o vinho associa-se ao fenómeno da Expansão Portuguesa (séc. XV a XVII). Era comum o transporte de vinho nas naus e galeões para consumo durante seis longos meses de ida e vinda, especialmente para a India e Brasil. Algum desse vinho regressava a Portugal, não chegando a ser consumido e a ele se dava o nome de vinho de "Roda" ou de "Torna viagem". Curioso que esse vinho era depois vendido a preços exorbitantes, dada a excelente qualidade que adquiria, segundo se pensa, nas altas temperaturas dos porões submersos aquando da dupla travessia do Equador. Estas experiências vieram a contribuir para o desenvolvimento de técnicas posteriores.

No século XVIII, a exportação de vinhos para a Inglaterra conheceu um novo desenvolvimento devido à assinatura do Tratado de Methwen entre os dois países. Nesta época, a vitivinicultura em Portugal viria a sofrer a influência da forte personalidade do Marquês de Pombal, a ele se devendo a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Desta forma, pensa-se que foi esta personagem que criou a primeira região demarcada de vinhos no mundo.

Apesar desta prosperidade, no séc. XIX a cultura da vinha passou por um período difícil devido a uma praga (a filoxera) que, começando na região do Douro, rapidamente alastrou para o resto do país, à excepção da região de Colares, por ser dotada de um terreno arenoso. A solução, no geral, foi arrancar as cepas e plantar novas enxertias. As dificuldades foram suplantadas e, no séc. XX, a produção de vinho ganhou novo alento e prestígio até aos dias de hoje, podendo mesmo afirmar-se que podemos competir em qualidade com qualquer região do mundo.

(Texto de Iracema Azevedo Leitão)

 
 




 

Pequena história do vinho e da vinha em Portugal I

 Fig. 1 - Lagareta junto a um moinho, nas margens da Teja.Cravadas na rocha pela mão humana, nestes engenhos se pisavam as uvas, em tempos remotos.

Fig. 2 - Pormenor do canal de escoamento da lagareta junto ao moinho.

 Pensa-se que a cultura da vinha na Península Ibérica terá sido iniciada nos vales do Tejo e Sado pelos Tartessos cerca de 2000 anos antes de Cristo. Nos séculos seguintes, os Fenícios (séc. X a.c.) terão trazido castas de videiras para terras  da Lusitânia, seguindo-se, no séc.VII a.c., os Gregos, e os Celtas no séc. VI a. c. Os Gregos ganharam fama na forma de fazer o vinho.
A vinda dos Romanos (194 a.c.) veio trazer um enorme desenvolvimento na cultura da vinha, sobretudo devido ao aumento do consumo de vinho em Roma. Após a queda do Império Romano e já com a implantação do Cristianismo (séc. VI e VII depois de Cristo), o vinho tornou-se essencial nas cerimónias do acto da Eucaristia.
Com a vinda dos Árabes (séc. VIII d.c.), apesar de o Corão proibir o uso de bebidas fermentadas, a produção e uso do vinho não foi vedada pelos soberanos árabes, mesmo no Algarve, onde este povo se manteve mais de cinco séculos. Mais tarde, a cultura árabe iria refrear um pouco a produção desta bebida.
Na Idade Média (séc. XII, XIII e XIV), a cultura da vinha ganha novo impulso, tornando-se o vinho um elemento importante na dieta dos portugueses. As exportações aumentaram e tudo em parte devido ao trabalho das Ordens religiosas. Os vinhos portugueses registaram enorme renome, inclusive no Norte da Europa.
 
(Texto e fotos de Iracema Azevedo Leitão)