terça-feira, setembro 30, 2014

Lagares ou lagaretas rupestres

Ao falar da história do vinho, mais propriamente do seu fabrico, não podemos deixar de referir os lagares, lagaretas ou lagariças rupestres, abundantes em toda a zona do Mediterrâneo. Em Portugal situam-se essencialmente no Centro e Norte do país, muito em particular nas Beiras (onde o granito domina) e na região do Douro. São reservatórios ligeiramente inclinados e cravados pela mão do homem numa rocha com alguma elevação, de forma retangular, quadrada ou redonda e que serviriam para a pisa das uvas e a recolha do mosto.
Normalmente designam-se por lagares os reservatórios quadrados ou retangulares
de maior dimensão e maior profundidade. As lagaretas serão mais pequenas e pouco profundas. Estas construções são constituídas por uma pia, como acima se disse ligeiramente inclinada e de forma retangular, quadrada ou redonda, onde se esmagavam as uvas, um canal de escoamento e, em vários casos, um pio (ou até dois), onde caía o líquido. Quando não existe o pio, deduz-se que o mosto seria recolhido em vasilhas de madeira ou de cerâmica.
Nalguns casos, estes lagares possuíam uns buracos de poste que se pensa servirem para suportar uma estrutura de madeira para a prensagem das uvas.
Não existem certezas sobre a data de construção ou utilização destes lagares rupestres, visto escassearem vestígios arqueológicos nas zonas envolventes. Apontam-se ligeiras hipóteses de que os Romanos tivessem algo a ver com estes engenhos, mas há estudiosos que se inclinam para épocas mais tardias (séc. VIII, IX,X).
Em Chãos são conhecidas duas lagaretas: uma situada perto de um moinho nas margens da ribeira Teja; a outra situada numa vinha do vale dos Canais (ver fotos abaixo).
 
Lagareta da zona dos moinhos – possui uma pia ligeiramente inclinada, de forma retangular um pouco irregular. O canal de escoamento é bem visível, mas não possui nenhum pio. No entanto, existe altura suficiente por baixo do "bico" para colocação de vasilhas (ver fotos – fig 1 e 2).

Lagareta dos Canais – Levantam-se algumas dúvidas sobre se este reservatório será realmente uma lagareta. Possui uma larga pia picada à mão, mas não se deteta o canal de escoamento. No entanto, do lado nascente, existem rasgos e fissuras na rocha que porventura poderiam servir de canal natural. Além disso, observa-se um pormenor importante: a existência de dois buracos de poste, um frente ao outro e que supostamente serviriam de apoio a estruturas para prensagem das uvas (ver fotos – fig 3 e 4).

 
(Texto e fotos de Iracema Leitão)

 Lagareta dos Canais