quarta-feira, setembro 14, 2011

Segadas (4)

"Seitoira"



Como refeições principais nas segadas, havia o “almoço” (o pequeno-almoço), a “fatiga”, a meio da manhã, o “jantar” (o almoço) por volta do meio-dia, a merenda e a ceia. Ao “almoço” podiam servir batatas com bacalhau ou uma “barranha” ou alguidar vidrado de ovos cozidos acompanhados de molho de azeite e vinagre. Se o patrão tivesse pouco azeite, era evidente que o vinagre predominaria no molho. Podiam servir sopa, e tudo acompanhado com “fatigas” (fatias) de pão centeio. A meio da manhã serviam a “fatiga”: presunto, chouriço cru, queijo, ovos fritos, pão e vinho . Ao “jantar” eram servidas migas recheadas com bacalhau, em que o pão era cortado às fatias e molhado, certamente com a água do bacalhau e enriquecido com alho e ovos cozidos, ambos às rodelas. Era costume também servir grandes barranhas ou alguidares com arroz (batatas ou massa), acompanhado de couves e pedaços de carne gorda ou entremeada de porco ou fumeiro. Na merenda eram típicas as “migas de vinho”, confeccionadas com pequenas fatias de pão centeio, vinho e açúcar. Serviam igualmente as “migas de leite” (pão, leite e açúcar), bem como as “papas doces”, confeccionadas com farinha algo grosseira de milho (o “relão”), leite e açúcar. A ceia regulava pelo “jantar”.
(Participação de Iracema Azevedo Leitão)

Segadas (3)

(Dedeiras)


A feitura do rolheiro obedecia a regras, de forma a proteger o grão das chuvas e dos roedores. Colocava-se no chão do campo ceifado uma pedra alta e de boas dimensões. Os molhos iam sendo encostados em círculo à pedra com a “torada” (os toros dos caules) para baixo e as espigas para cima. Iam-se empilhando os molhos, sempre com as espigas para dentro. Na cobertura do rolheiro, acomodavam-se os molhos numa linha inclinada para o mesmo lado, com as espigas para baixo, de forma a que, se chovesse, a água pudesse escorrer.
Nos tempos em que, na aldeia, ainda havia gente para trabalhar era comum irem “ganhar o dia p’ra outrem”. E, na altura das segadas, eram frequentes as migrações de habitantes para a chamada Terra Quente, zonas situadas mais a norte, na direcção do rio Douro. Algumas dessas terras, ainda presentes na memória de alguns, são, entre outras, Relva, Marialva e Tomadia.
Na véspera, um contratador percorria a aldeia para recrutar os homens ou mulheres que quisessem ir segar para a Terra Quente. No dia da partida, saíam de manhã bem cedo, a pé, e só chegavam à noite. Dormiam no chão em palhais ou cobertos pertencentes às casas dos patrões.
Era duro o trabalho nessas terras devido à enorme extensão dos campos a ceifar (chegavam a levar duas horas para segar os dois ou três regos de um extremo ao outro do campo) e à falta de sombras que pudessem proteger do sol escaldante. Deste modo, até a refeição do meio-dia (o “jantar”) era realizada ao sol, devido à falta de árvores. Por outro lado, era frequente o patrão contratar um “picador”, ou seja, um segador experiente que serviria para “picar” ou espicaçar o pessoal, levando-os a segar mais depressa.
(Participação de Iracema Azevedo Leitão)