quarta-feira, abril 25, 2012

O forno público


Nas longas noites de inverno, era no forno que se encontrava o calor, a conversa, a revista dos temas quentes da aldeia.
Hoje pouco utilizado, o forno tinha uma utilização intensa.
É uma boa altura para o lembrar, como símbolo do que é comum na aldeia.
Aqui se coziam tabuleiros de bolos de Páscoa e os biscoitos cujas fotos já viram na publicação anterior.
Apetece rememorar esses belos tempos, de sabores e vivências, que a saudade nos ensinou a valorizar.
Quem nunca conheceu a vivência de uma aldeia terá dificuldade em imaginá-la em toda a sua plenitude nestes tempos.
Aqui fica a imagem (já com um simbolo da evolução e da modernidade - o caixote ao lado), já com electricidade. Noutros tempos a iluminação era feita de com candeias, candeeiros e principalmente lampiões.    

segunda-feira, abril 02, 2012

A Páscoa (2)

Doces tradicionais da Páscoa: O bolo, as filhós e os biscoitos








A hora da Via Sacra (na Quinta-Feira de tarde e Sexta-Feira Santas, de manhã) era anunciada às pessoas da aldeia através de um instrumento de madeira chamado de “matráculas”. Eram constituídas por uma pequena tábua rectangular com uma pega e mais duas tábuas móveis, presas à primeira por argolas de ferro, ficando uma por baixo e a outra por cima. Fazendo movimentos para baixo e para cima, as partes móveis batiam na parte fixa, o que provocava sons fortes e estridentes. Toda a gente podia ter um objecto destes em casa.
Sobretudo nestes dois dias santos, as mulheres não punham roupa branca a secar, pois corria
a superstição de que poderiam aparecer manchas de sangue sobre a alvura da roupa.
Geralmente eram dois ou três “garotos” que “tocavam as matráculas”, em três momentos certos da tarde ou da manhã, perfazendo portanto três voltas à aldeia cada dia santo. Por exemplo, na Quinta-Feira Santa, de tarde, davam uma volta, a tocar as matráculas, às 15 horas, outra volta às 15,30 e a última volta às 16 horas. Seguia-se de imediato a Via Sacra.
Terminado o período da Quaresma, chegava o alegre Domingo de Páscoa, dia festivo em que o padre, acompanhado por um paroquiano, percorria as ruas para visitar as casas, ou seja, para “tirar o folar”. O padre dava a cruz a beijar a todos os presentes, geralmente dispostos à volta da mesa da sala, enquanto espalhava água benta e dizia: “Cristo ressuscitou! Aleluia, Aleluia!”. Em cima da mesa era costume colocar num prato, como oferta, algum dinheiro, de acordo com as posses de cada um. Nas casas mais abastadas, acrescentavam-se doces da Páscoa e vinho.
Ao almoço era frequente o cabrito ou o borrego, além dos típicos doces da quadra pascal : o “bolo” (o folar), as filhós e os biscoitos (ver foto). Em casas de posses poderia confeccionar-se o pão-de-ló.






(Calvário visto por trás ao pôr do sol)




(Texto e fotos de Iracema Azevedo Leitão)



domingo, abril 01, 2012

Páscoa (1)

O Calvário - visto de frente



A Páscoa constituía uma festa importante para os habitantes de Chãos. Era nessa altura que, no forno comunitário, se coziam os “bolos” (em muitas zonas do país apelidados de “folares”), feitos essencialmente de farinha, ovos e azeite, e que todos os padrinhos tinham o dever de oferecer aos seus afilhados.
O Domingo anterior à Páscoa era o Domingo de Ramos. Antes da missa, os mordomos desse ano colocavam um monte de ramos de oliveira perto do altar, para que, durante a celebração, o padre os benzesse com água benta. No final, cada pessoa ia receber o seu ramo, pendurando-o posteriormente num local de sua casa para que esta ficasse abençoada e livre de perigos.
Durante o período da Quaresma, dizia-se a “Dia Sacra” (versão popular de Via Sacra) no interior da capela. Na Quinta e Sexta-Feira Santas, fazia-se fora, em peregrinação, percorrendo primeiro diversos pontos das ruas do “povo” assinalados por cruzes, antes de madeira e posteriormente de pedra. As cruzes estavam pregadas nas paredes de algumas casas. À frente ia um homem com uma grande cruz de madeira, onde se traçara uma toalha branca, geralmente de linho. No percurso rezava-se o terço e, em cada cruz, o grupo parava para ouvir um paroquiano ler uma passagem de um livro correspondente a uma “estação” da Via Sacra.
A Via Sacra terminava no Calvário, situado a umas centenas de metros da capela, na zona das “Eiras”. Trata-se de um pequeno complexo arquitectónico muito antigo que tenta recriar o lugar onde Cristo foi crucificado. Ergue-se num “cabeço” (pequena elevação) chamado de Poisados e é constituído por uma espécie de altar com escadas onde se levantam as três cruzes principais (ver foto). Abaixo destas, e em pontos mais alargados, erguem-se, cada uma sobre um pequeno pilar trabalhado, outras quatro cruzes, perfazendo no total sete cruzes, outrora de madeira. Neste local percorriam-se os sete pontos sagrados e todos se ajoelhavam para meditar nos martírios do Senhor.



(Texto e foto de Iracema Azevedo Leitão)

A Páscoa

Estamos a poucos dias da Páscoa, com os reencontros de familiares ausentes, com as festas religiosas e o reavivar das tradições, assinalados também na gastronomia de cada região.

Aqui fica uma saudação especial para a aldeia de Chãos e os seus habitantes, bem como para todos os naturais e amigos de Chãos que visitem este blog.

Publicamos de seguida dois interessantes textos da história e tradição da aldeia nesta época.

Os mais velhos relembrarão tempos e emoções. Os mais novos imaginarão a vivacidade da aldeia outrora por esta altura do ano.