domingo, novembro 11, 2012

S. Martinho - as boas memórias da aldeia


(Flor de castanheiro - Fotos de Iracema Azevedo Leitão) 

Como em muitas outras terras da Beira Interior, a batata e a castanha eram os produtos da terra que melhor garantiam a subsistência alimentar da população, sobretudo durante o Inverno.
No tempo das castanhas, quase todos os dias à noite se cozia uma panela de barro de castanhas ou se assavam algumas nas brasas da fogueira. Por vezes, um copinho de jeropiga alegrava e enriquecia o sabor das castanhas na boca.
No dia de S. Martinho, era costume fazer-se um magusto colectivo num pinhal:
limpava-se um círculo no chão do pinhal, aí se deitavam as castanhas golpeadas (para não estourarem e causarem alguns danos ou risos) e cobriam-se de “carumba”(folhas do pinheiro). Ateava-se o fogo e iam-se remexendo até assarem.
As castanhas depressa se deterioravam. Para as conservarem, as pessoas secavam-nas no “caniço”, série de finas ripas de madeira unidas e colocadas no tecto da cozinha, ao alcance do calor e do fumo da fogueira. Também havia quem as conservasse frescas em areia, dentro de cântaros de barro.
Às castanhas secas tiravam-se depois as cascas exterior e interior, sendo depois guardadas em pequenos sacos de pano. Muitas vezes, eram utilizadas na confecção da sopa de castanhas. Também era costume dar às crianças castanhas e figos secos quando corriam as casas a “cantar as Janeiras”.
A sopa de castanhas era frequente nas noites de Inverno, sobretudo quando nevava e as pessoas ficavam alguns dias impossibilitadas de sair de suas casas. Deitavam-se as castanhas de molho (retirava-se a casca interior, se ainda a tivessem) e depois coziam em água juntamente com um pouco de feijão vermelho e uma pitada de sal, tendo o cuidado para que os ingredientes não se desfizessem totalmente. Escusado será dizer que as panelas de ferro e a lenha acentuavam o excelente sabor adocicado desta sopa, tão apropriada para os dias frios.

(Texto e fotos de Iracema Azevedo Leitão)

1 comentário:

  1. Penso qe todos vemos claramente as castanhas e o tempo delas, mas não temos reparado na flor do castanheiro...
    Estas flores são de uma expressividade invulgar.
    Parabéns à autora e muito obrigado por partilhar neste blog a sua arte.

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