quarta-feira, setembro 14, 2011

Segadas (3)

(Dedeiras)


A feitura do rolheiro obedecia a regras, de forma a proteger o grão das chuvas e dos roedores. Colocava-se no chão do campo ceifado uma pedra alta e de boas dimensões. Os molhos iam sendo encostados em círculo à pedra com a “torada” (os toros dos caules) para baixo e as espigas para cima. Iam-se empilhando os molhos, sempre com as espigas para dentro. Na cobertura do rolheiro, acomodavam-se os molhos numa linha inclinada para o mesmo lado, com as espigas para baixo, de forma a que, se chovesse, a água pudesse escorrer.
Nos tempos em que, na aldeia, ainda havia gente para trabalhar era comum irem “ganhar o dia p’ra outrem”. E, na altura das segadas, eram frequentes as migrações de habitantes para a chamada Terra Quente, zonas situadas mais a norte, na direcção do rio Douro. Algumas dessas terras, ainda presentes na memória de alguns, são, entre outras, Relva, Marialva e Tomadia.
Na véspera, um contratador percorria a aldeia para recrutar os homens ou mulheres que quisessem ir segar para a Terra Quente. No dia da partida, saíam de manhã bem cedo, a pé, e só chegavam à noite. Dormiam no chão em palhais ou cobertos pertencentes às casas dos patrões.
Era duro o trabalho nessas terras devido à enorme extensão dos campos a ceifar (chegavam a levar duas horas para segar os dois ou três regos de um extremo ao outro do campo) e à falta de sombras que pudessem proteger do sol escaldante. Deste modo, até a refeição do meio-dia (o “jantar”) era realizada ao sol, devido à falta de árvores. Por outro lado, era frequente o patrão contratar um “picador”, ou seja, um segador experiente que serviria para “picar” ou espicaçar o pessoal, levando-os a segar mais depressa.
(Participação de Iracema Azevedo Leitão)

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