segunda-feira, abril 02, 2012

A Páscoa (2)

Doces tradicionais da Páscoa: O bolo, as filhós e os biscoitos








A hora da Via Sacra (na Quinta-Feira de tarde e Sexta-Feira Santas, de manhã) era anunciada às pessoas da aldeia através de um instrumento de madeira chamado de “matráculas”. Eram constituídas por uma pequena tábua rectangular com uma pega e mais duas tábuas móveis, presas à primeira por argolas de ferro, ficando uma por baixo e a outra por cima. Fazendo movimentos para baixo e para cima, as partes móveis batiam na parte fixa, o que provocava sons fortes e estridentes. Toda a gente podia ter um objecto destes em casa.
Sobretudo nestes dois dias santos, as mulheres não punham roupa branca a secar, pois corria
a superstição de que poderiam aparecer manchas de sangue sobre a alvura da roupa.
Geralmente eram dois ou três “garotos” que “tocavam as matráculas”, em três momentos certos da tarde ou da manhã, perfazendo portanto três voltas à aldeia cada dia santo. Por exemplo, na Quinta-Feira Santa, de tarde, davam uma volta, a tocar as matráculas, às 15 horas, outra volta às 15,30 e a última volta às 16 horas. Seguia-se de imediato a Via Sacra.
Terminado o período da Quaresma, chegava o alegre Domingo de Páscoa, dia festivo em que o padre, acompanhado por um paroquiano, percorria as ruas para visitar as casas, ou seja, para “tirar o folar”. O padre dava a cruz a beijar a todos os presentes, geralmente dispostos à volta da mesa da sala, enquanto espalhava água benta e dizia: “Cristo ressuscitou! Aleluia, Aleluia!”. Em cima da mesa era costume colocar num prato, como oferta, algum dinheiro, de acordo com as posses de cada um. Nas casas mais abastadas, acrescentavam-se doces da Páscoa e vinho.
Ao almoço era frequente o cabrito ou o borrego, além dos típicos doces da quadra pascal : o “bolo” (o folar), as filhós e os biscoitos (ver foto). Em casas de posses poderia confeccionar-se o pão-de-ló.






(Calvário visto por trás ao pôr do sol)




(Texto e fotos de Iracema Azevedo Leitão)



4 comentários:

  1. Este excelente texto (e o anterior) evocam em pormenor os dias de 5ªfeira santa e 6ª feira santa, segundo a tradição da aldeia e das suas gentes, ao tempo com população numerosa.
    Por outro lado, a foto dos doces locais mais típicos na época da Páscoa, estão de tal forma retratados que esta publicação (da foto) é uma maldade que fazemos aos naturais de Chãos, pois, pelo menos os que se encontram em paragens distantes vão sentir água na boca, como costuma dizer-se, e maldizer a impossibilidade de degustar tais manjares à moda da aldeia, com o sabor e textura inimitável...
    Mais um sacrifício pascal!

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  2. Aldeia de chãos? Não conheço. Conheço aldeia ou seja a Freguesia de Casteição. Chãos como anexa.
    Um abraço para todas as pessoas da anexa de chãos.

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    1. É natural que não conheça e não será o único.Aconselho-o a consultar qualquer dicionário de português. Por exemplo, um dos mais conceituados o "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa" que diz:
      ALDEIA - s.f.(leia-se: substantivo feminino) povoação de pequenas proporções, menor do que vila; povoação rural, povoado...
      E também refere:
      ANEXA - ... tudo o que é anexo a outra coisa maior ou mais importante.
      ----- *** -----
      Assim, uma coisa não impede a outra. Chãos é de facto, inevitavelmente, uma aldeia.
      De resto apenas se recomenda ao comentador antecedente que leia "Breve história de Chãos" logo no início do blog. Ficará surpreendido.E confortado na importância que manifestamente confere a Casteição. Quase todos os antepassados dos naturais de Chãos provêm de Casteição. Actualmente, diria mesmo que pouco haverá que distinguir entre duas pequenas aldeias... apesar de uma ser freguesia e outra "anexa"...
      Já agora, veja também a LEXICOTECA Moderna Enciclopédia Universal:
      "ALDEIA - Povoação rural sem autonomia administrativa. Uma ou mais aldeias é que constituem uma freguesia, a autarquia local de grau ínfimo. ...."
      Antero Monteiro

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    2. Luís Filipe Figueiredo da silva São paulo Br.16 de abril de 2014 às 21:18

      Tecer louvas à função administrativa que cada povoação representa é chover no molhado, o que interessa falar aqui é que indistintamente de ser cidade, vila, aldeia ou anexa, todas sofrem do mesmo mal: a desertificação. Mas como se diz que para grande mal grande remédio, soluções hão-de aparecer com certeza e gente vai aflorar e ocupar novamente todos os nossos rincões portugueses. Sou medense da Mêda e conheço cada freguesia e anexas muito bem. Como tudo está lindo e perfeito para ser ocupado e poder criar nossos filhos. É urgente sacudir o país e fazer despertar os nossos governantes desse sono e letargia profundos e espicaçá-los com aquela aguilhada que os nossos lavradores de antanho picavam os bois que jungidos à canga aravam as terras. Acordar e fazer brotar condições para que nossos jovens se fixem à terra e dela sobrevivam condignamente e consigam formar uma família alegre e satisfeita com o lugar onde vivem. A mudança é necessária e tem que ser rápida, antes que a degradação que já começou atinja tal ápice que não dê mais para estanca-la.

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