domingo, abril 01, 2012

Páscoa (1)

O Calvário - visto de frente



A Páscoa constituía uma festa importante para os habitantes de Chãos. Era nessa altura que, no forno comunitário, se coziam os “bolos” (em muitas zonas do país apelidados de “folares”), feitos essencialmente de farinha, ovos e azeite, e que todos os padrinhos tinham o dever de oferecer aos seus afilhados.
O Domingo anterior à Páscoa era o Domingo de Ramos. Antes da missa, os mordomos desse ano colocavam um monte de ramos de oliveira perto do altar, para que, durante a celebração, o padre os benzesse com água benta. No final, cada pessoa ia receber o seu ramo, pendurando-o posteriormente num local de sua casa para que esta ficasse abençoada e livre de perigos.
Durante o período da Quaresma, dizia-se a “Dia Sacra” (versão popular de Via Sacra) no interior da capela. Na Quinta e Sexta-Feira Santas, fazia-se fora, em peregrinação, percorrendo primeiro diversos pontos das ruas do “povo” assinalados por cruzes, antes de madeira e posteriormente de pedra. As cruzes estavam pregadas nas paredes de algumas casas. À frente ia um homem com uma grande cruz de madeira, onde se traçara uma toalha branca, geralmente de linho. No percurso rezava-se o terço e, em cada cruz, o grupo parava para ouvir um paroquiano ler uma passagem de um livro correspondente a uma “estação” da Via Sacra.
A Via Sacra terminava no Calvário, situado a umas centenas de metros da capela, na zona das “Eiras”. Trata-se de um pequeno complexo arquitectónico muito antigo que tenta recriar o lugar onde Cristo foi crucificado. Ergue-se num “cabeço” (pequena elevação) chamado de Poisados e é constituído por uma espécie de altar com escadas onde se levantam as três cruzes principais (ver foto). Abaixo destas, e em pontos mais alargados, erguem-se, cada uma sobre um pequeno pilar trabalhado, outras quatro cruzes, perfazendo no total sete cruzes, outrora de madeira. Neste local percorriam-se os sete pontos sagrados e todos se ajoelhavam para meditar nos martírios do Senhor.



(Texto e foto de Iracema Azevedo Leitão)

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